Rui Pires: filmes com “qualidades para ser destacados em festivais”

Foi perante uma plateia cheia de jovens, professores e profissionais do cinema que Rui Pires — realizador, argumentista e produtor de O Palácio de Cidadãos — subiu ao palco do Auditório Municipal Augusto Cabrita, na sessão de abertura do Barreiro em Curtas | 2025. Convidado a dirigir algumas palavras aos estudantes, o cineasta partilhou o seu entusiasmo ao descobrir um projecto escolar que vai muito além da teoria: um verdadeiro exercício de criação, autonomia e formação em cinema. Neste depoimento em primeiro pessoa, Rui Pires fala da surpresa com a qualidade narrativa e visual das curtas-metragens apresentadas, sublinha o impacto formativo da experiência para os alunos e reforça a importância de se investir no ensino das artes em Portugal. O realizador reconhece o valor do trabalho desenvolvido no Agrupamento de Escolas de Casquilhos e aponta com entusiasmo para o futuro: o alargamento intermunicipal do festival, com o “Curtas na Margem – Este Rio Que Nos Toca”, poderá abrir novas margens de descoberta, participação e transformação. Lê o depoimento de Rui Pires sobre a força do cinema nas escolas e o futuro do “Barreiro em Curtas”.

____________________________

Sou argumentista, montador, produtor e realizador do filme O PALÁCIO DE CIDADÃOS, e a 28 de Maio de 2025 fui convidado para dirigir umas palavras iniciais perante uma plateia lotada de colegas estudantes de Escolas Secundárias, comunidade e personalidades do meio cinematográfico, na sessão de abertura do “Barreiro em Curtas” no Auditório Municipal Augusto Cabrita no Barreiro, organizado pelo Agrupamento de Escolas de Casquilhos em articulação com o Agrupamento de Escolas do Barreiro, e em parceria com o Cineclube do Barreiro e o Plano Nacional de Cinema. Em particular, queria deixar um incentivo aos estudantes que apresentariam de seguida as suas curtas-metragens perante o público, realizadas durante o último ano letivo, e que também eu iria descobrir pela primeira vez.

Devo dizer que fiquei impressionado pela qualidade dos trabalhos apresentados, realizados por alunas e alunos que trabalharam ao longo de um ano letivo integrados neste plano de capacitação cinematográfica. Dinamizado pela professora Helena Pereira, do Agrupamento de Escolas de Casquilhos, no Barreiro, e pelos formadores Mário Ventura e Sílvia Coelho, fiquei impressionado pela dimensão do evento, altamente participado, e que capacitava os alunos de autonomia e saber de experiência feito, ao fazê-los subir ao palco para apresentar os seus trabalhos – filmes documentários – perante uma plateia de centenas de pessoas, estudantes, profissionais e comunidade local, e que de muitas maneiras incentivava os restantes estudantes a participarem e envolverem-se em atividades de capacitação fílmica para o próximo ano letivo.

Como profissional de cinema, com um filme premiado e estreado nos cinemas comerciais e fora de Portugal, impressionou-me a capacidade e desenvoltura manifestada pelos filmes apresentados – um deles possui qualidades para ser destacado em festivais nacionais e internacionais de estudantes. A qualidade narrativa, a coerência visual, a desenvoltura e envolvência cinematográfica criada era notável, e que conseguia ressentir na plateia, mais ainda por serem primeiros filmes, de estudantes do secundário.

Percebi também que neste projeto os alunos aprendiam uns com os outros, confrontavam-se com os desafios colocados por cada filme, conjugando uma aprendizagem coletiva, o que é para mim uma evidência do tremendo impacto que estes programas podem ter na capacitação cinematográfica e formação de criadores, e até na formação e envolvimento do público, no domínio do cinema em Portugal, e que inúmeras políticas culturais nas últimas décadas não têm consigo alcançar mas de de que tanto precisamos.

Estou por isso muito entusiasmado, e surpreso, por este enorme trabalho desenvolvido no Agrupamento de Escola de Casquilhos e pela possibilidade da existência em 2026 do “Festival Curtas na Margem, Este Rio Que Nos Toca”, esperando que este novo projeto, realizado no Ensino Secundário mas que transpõe os muros da escola e pretende chegar a uma comunidade muito mais alargada, possa receber todos os apoios de que necessita para que a sua realização possa tocar e impactar um cada vez maior número de jovens estudantes, e público, justificando a relevância e importância do Ensino das Artes em Portugal.

Lê também