Por Helena Sardinha Pereira | Julho 2025
A cultura não se impõe, contagia. Quando a proposta do “Barreiro em Curtas” chegou às mãos da vereadora Sara Ferreira, vinha acompanhada de algo raro: um compromisso autêntico entre a criação artística e o pensamento educativo. A ideia nascia da comunidade escolar, com o selo da professora Helena Sardinha Pereira e trazia consigo o impulso de atravessar os muros da escola para dialogar com o território.
Nesta entrevista, Sara Ferreira reflete sobre a importância do festival na formação estética e crítica dos jovens, sublinha o valor de se olhar o Barreiro através da linguagem cinematográfica e saúda a iniciativa, reconhecendo o seu potencial para consolidar uma rede intermunicipal que alargue horizontes. O cinema, diz, pode ser ferramenta e espelho — capaz de formar, ligar e transformar. Segue-se a conversa com Sara Ferreira, onde cada resposta ilumina o sentido profundo deste projeto que liga juventude, educação e identidade local.
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A Vereadora Sara Ferreira foi uma das primeiras pessoas a acreditar no projeto “Barreiro em Curtas”. O que a motivou a apoiar desde o início esta iniciativa cultural e educativa?
Desde logo, o facto desta proposta ter uma forte componente simultaneamente artística e educativa, mas sobretudo o facto desta nos ter chegado a partir da comunidade educativa, ainda por mais com o cunho da Prof. Helena Sardinha Pereira, uma docente que consegue despertar o melhor dos alunos, fazer pontes entre várias áreas e ultrapassar os muros da escola.
Qual considera ser a importância deste festival para os alunos do concelho, tanto no plano artístico como no plano formativo?
Numa altura em que os jovens estão constantemente expostos a imagens e são eles próprios criadores de tantas imagens, é importante que estes possam compreender e desenvolver o seu conhecimento da linguagem cinematográfica e o seu juízo estético, criando eles próprios curtas-metragens e compreendendo que nem todas as imagens em movimento se equivalem.
O facto desta criação recair sobre o património cultural do Barreiro confere-lhe um valor especial, pois irá promover quer a descoberta quer a releitura da identidade barreirense, identidade essa que é na realidade um mosaico de identidades, histórias, passados e aspirações.
O “Barreiro em Curtas” é um espaço onde a cultura, a juventude e a educação se encontram. Como vê esta ligação entre os diferentes setores que tutela?
Estas são, de facto, áreas que têm vários pontos de contacto, repare-se o quão difícil é pensarmos em juventude sem pensarmos em educação e cultura. A juventude é um momento de enormes desafios, de muitas escolhas, de crescimento intelectual e o principal papel quer da educação quer da cultura é o de enquadrar, dar ferramentas para compreender, pensar, imaginar e mudar – nós próprios, a nossa família, amigos, a nossa cidade, o mundo.
Que papel atribui ao cinema – e, em particular, ao cinema feito pelos mais jovens – na construção de uma identidade local consciente e participada?
O cinema tem uma força muito própria que julgo que virá do facto de absorver elementos de outras artes (o teatro, a música, a fotografia). Essa força própria dá-lhe uma enorme flexibilidade e atratividade que me parecem importantes para que este trabalho de pensar a identidade seja um trabalho participado e que desperte o interesse do público.
Como imagina o crescimento deste projeto no futuro? Que continuidade ou expansão gostaria de ver acontecer?
Gostaria que o projeto conseguisse chegar a cada vez mais jovens e que a qualidade dos projetos apresentados continuasse a crescer.
A articulação com o “Festival de Curtas na Margem”, que une municípios como Almada, Montijo e Seixal, abre novas perspetivas. Que potencialidades identifica nesta rede intermunicipal?
Tanto na arte como na educação, tudo o que signifique alargar os horizontes é uma mais-valia. Estes contactos expõem alunos e professores a novas formas de trabalhar, novas ideias, aumenta a qualidade das criações apresentadas e facilita o nascimento de colaborações futuras.
Na sua opinião, o que distingue o “Barreiro em Curtas” de outros projetos escolares e culturais promovidos no concelho?
A forma como trabalha as questões do património barreirense à luz da linguagem cinematográfica parece-me ser o grande elemento diferenciador do “Barreiro em Curtas”.
Enquanto responsável pelas áreas da Educação e Cultura, que mensagem gostaria de deixar aos alunos, professores e parceiros que tornam este projeto possível?
Uma clara mensagem de agradecimento pelo interesse e empenho em olhar para o Barreiro como matéria-prima para a criação artística – A todos vós o meu muito sincero obrigado.
Que impacto espera que este festival tenha, a longo prazo, na vida cultural e cívica dos jovens do Barreiro?
Acredito que o festival irá ter um impacto muito positivo. Projetos como este apontam caminhos, despertam interesses, enriquecem a imaginação e lançam as bases para que estes jovens sejam adultos mais criativos, interessados e informados.

