Como nasceu o “Barreiro em Curtas”

Por Helena Sardinha Pereira

O Barreiro em Curtas nasceu quase por acaso. Ou talvez não. Tudo começou há cerca de quatro anos, quando três das minhas alunas, cheias de ideias, energia e vontade de fazer algo diferente: a Jéssica Alves, a Catarina Menor e a Ana Silva, decidiram criar uma curta-metragem para participar num concurso promovido pela Associação de Professores de História, sob o tema “A Guerra Colonial na minha terra”. O plano era simples: fazer um vídeo. Mas, como tantas vezes acontece, aquilo que parecia simples revelou-se bem mais desafiante… e, mesmo sem nos apercebermos na altura, acabou por se tornar em algo muito especial.

Durante o processo de edição das entrevistas feitas a ex-combatentes da guerra, as alunas encontraram várias dificuldades técnicas. A frustração começou a instalar-se e a vontade de desistir também. Foi então que entrei em contacto com Sílvia Coelho, ligada ao cinema, e pedi-lhe ajuda. A Sílvia trouxe não só um olhar técnico mais experiente, mas também uma sensibilidade artística muito própria e, com isso, a curta-metragem ganhou nova vida. A partir desse momento, o entusiasmo inicial deu lugar a algo maior: uma ambição partilhada.

Recordamos todas com nitidez como tudo começou a mudar. Foi durante um almoço de trabalho num restaurante local, à mesa estávamos eu, as três alunas e a Sílvia Coelho. A conversa corria leve, com entusiasmo e boa disposição, quando me surgiu a pergunta: “E se isto não ficasse por aqui?” Naquele instante percebemos que havia ali algo com verdadeiro potencial para crescer — um projeto capaz de envolver mais pessoas, mais histórias, mais talento.

Foi nesse momento, entre garfadas e um brinde ao desafio que nascia, que se começou a desenhar o que viria a tornar-se o Barreiro em Curtas: um ponto de partida inesperado que se transformou num espaço de encontro, partilha e criação, onde as histórias do Barreiro ganham forma e voz através do cinema. Um projeto que mostra que, mesmo entre obstáculos e dificuldades, pode surgir algo muito especial.

As alunas não ganharam o concurso, é um facto. Mas o Barreiro ganhou um festival de curtas que viria a unir escolas, professores de várias disciplinas, outros municípios e muitos profissionais ligados à cultura e ao cinema. Pessoas que, ao juntarem-se ao projeto, trazem novas dimensões e valências, desde a composição de bandas sonoras originais, ao cinema de animação, passando pela acreditação de competências e pela capacitação digital.

Cada pessoa que entra neste projeto acrescenta-lhe o seu toque pessoal, imprimindo-lhe novas cores, sons e sentidos. O Barreiro em Curtas transformou-se num trabalho coletivo, de toda uma comunidade, que faz sentido para quem participa, mas também para quem assiste pois revela a energia e o talento de todos os que colocam a sua vontade ao serviço de uma missão verdadeiramente especial: a educação e a cultura, o património local, o sentido de pertença e a identidade de um território que merece ser ouvido e lembrado por todos.

Sabe mais | Vê video “Da Ideia ao Ecrã: Barreiro em Curtas”

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